Espécies em extinção e sobre-exploradas

Amigos pescadores

Esse assunto quase sempre é tema das nossas conversas. Assim sendo, com o objetivo de trazer informação qualificada, posto a entrevista com o Dr. Carlos Alberto Lucena.

C.Mazzillo

E – Nas revistas que falam de pesca, muitas vezes, encontramos matérias sobre a preservação das espécies. Poderia explicar, aos nossos associados e interessados nesse assunto, o que são espécies sobre-exploradas e o que as leva à extinção?

Prof. Lucena - Espécies sobre-exploradas são aquelas cujos estoques foram exaustivamente pescados, ou seja, o esforço de pesca empregado foi muito maior do que a espécie poderia suportar. Com isso, o número de indivíduos com chance de alcançar a idade reprodutiva fica extremamente reduzido e em conseqüência a produção de jovens também fica comprometida. Com o decorrer do tempo, se não houver alguma medida drástica, a espécie tende a desaparecer. Dados da literatura indicam que 25% das populações de peixes marinhos estudadas estão sobre-exploradas, esgotadas ou em fase de recuperação do esgotamento. Em relação à Amazônia, cerca de 30% das espécies estão sobre-exploradas ou em recuperação.
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E- O processo de extinção é igual para todas as espécies?

Prof. Lucena - Não. Os processos que levam à extinção das espécies são variados. Dependem da “fragilidade” da espécie em si, da sua relação com o ambiente e com outras espécies. Na maioria dos casos de peixes de água doce, por exemplo,a extinção está relacionada às alterações ambientais causadas pelo homem. Quanto aos peixes marinhos, a principal ameaça é a sobre-exploração. Porém, o tempo que leva a extinção é variável de acordo com a espécie.

E - Existe algum sinalizador que indica que, mesmo sendo encontrada, essa espécie será extinta?

Prof. Lucena – Sim. Há critérios em que isso pode ser detectado. Esses critérios são utilizados pelos órgãos, ou pesquisadores, responsáveis pela elaboração de listas das espécies em perigo de extinção. Vários aspectos são levados em consideração, sempre considerados em conjunto, envolvendo tanto o ambiente quanto as espécies que estão sendo investigadas. Por exemplo, sua distribuição geográfica, o grau de impacto de seu hábitat, o grau de sua dependência com o ambiente, o tamanho e variação populacional da espécie na área de investigação, entre outros.

E - Sob o ponto de vista preservacionista, o que representa a captura de espécies fora das medidas legais?

Prof. Lucena - Significa que estamos capturando exemplares adultos em reprodução, ou jovens em vias de entrar em seu primeiro período reprodutivo. Isso irá comprometer a produção de novos jovens ou a formação de adultos reprodutores. Além da pesca sobre-explorada, a captura de exemplares fora das medidas legais é outra maneira de comprometer os estoques.

E – Uma recomendação para os pescadores amadores.

Prof. Lucena - Obedeçam a legislação e/ou, na ausência de uma, sigam seus instintos preservacionistas que, acredito, cada um de nós possui. Lembro que as futuras gerações dependem unicamente do nosso comportamento atual frente à preservação ambiental.

Prof. Dr. Carlos Alberto Lucena é curador do Setor de Ictiologia do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS.