segunda-feira, abril 06, 2009

Viola: a inadiável necessidade de preservação



Amigos pescadores

Tenho presenciado várias discussões sobre a pesca da viola, em razão da legislação atual proibir sua captura. Na maioria das vezes, escuto críticas à legislação do IBAMA. Por esse motivo apresento algumas informações sobre essa espécie para ajudar os pescadores a entenderem a real situação em que essa espécie se encontra. A viola enquadra-se no grupo dos elasmobrânquios (tubarões e raias) que são os peixes cartilaginosos. Pertencem à família Rhinobatidae, sendo a encontrada, no litoral do Rio Grande do Sul, da espécie Rhinobatos horkelii. Habitam as águas litorâneas, desde o estado de São Paulo (latidude 23º S), até a Província de Buenos Aires (latitude 39ºS). Sua família é considerada muito antiga e teve sua origem no período Cretáceo, um passado de mais de 120 milhões de anos. São peixes que vivem associados ao fundo dos oceanos, e como tal, são denominados bentônicos, sendo uma espécie residente do litoral sul do Brasil. É ovovivípara que significa que o embrião desenvolve-se dentro do corpo materno até o nascimento, sendo nutrido por um sco vitelino.

Seu ciclo reprodutivo anual é sincronizado, revelando que todas as fêmeas adultas têm sua prole na mesma época do ano, em águas costeiras, durante os meses de fevereiro a março. Outra característica importante é o fato das fêmeas estarem prenhes quase que permanentemente, excetuando-se o breve período de cópula, entre o momento de ter sua prole e a prenhez subseqüente. Informações do IBAMA, sobre a pesca da viola revelam que, em 1970, a pesca artesanal e industrial desembarcava, no Porto de Rio Grande, 350 t/ano dessa espécie. No ano de 1984, a captura atingiu 1850 t/ano, caindo abruptamente, para 200 toneladas no ano de 2002, sinalizando um grande declínio populacional. Pensem no impacto que essas capturas provocaram. Não é difícil perceber que essa é umas das razões para proibição da sua pesca e a indicação de ameaça de extinção. Analisando-se o comportamento da viola observa-se que uma fêmea prenhe, quando capturada, aborta seus filhotes, impedindo a continuidade do ciclo reprodutivo. Imaginem o impacto desse comportamento em grande escala. O resultado é o colapso e a possível extinção. Outro aspecto a considerar é que as águas costeiras, devido as suas condições ambientais, são os berçários dessa espécie. Presenciei, muitas vezes, a captura em grade quantidade (as conhecidas corridas de violas), nas praias e nas plataformas de pesca de neonatos (filhotes) e fêmeas que abortavam sua prole e que não foram devolvidos ao seu ambiente. Precisamos, urgentemente, mudar esse comportamento, sob pena de num futuro, muito próximo, nossos filhos e netos ouvirem apenas histórias desse magnífico peixe. Se, por acaso capturar uma, solte-a, imediatamente, sem feri-la. Para aqueles que desejarem saber mais sobre peixes em extinção ou ameaçados sugiro a leitura dos livros abaixo.
C. Mazzillo

Vooren,C.M. ; Klippel,S. Ações para conservação de tubarões e raias no sul do Brasil. Porto Alegre: Igaré, 2005 (ISBN: 85-99751-01-8)

Fontana,C.S. ; Bencke, G.A. ; Reis, R.E. (org) Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 (ISBN: 85-7430-415-8)

7 comentários:

seuilha disse...

Perfeito. Já é hora de uma ampla concientização da gurizada e dos mais velhos da plataforma no sentido de preservar especies como a viola, raias e cações
Olhem a dificuldade de pesca de hoje e projetem pra seus netos.

Ney Madruga disse...

A luta pela conscientização parece perdida, mas olhem o exemplo daquele senhor e sua senhora catando lixo na beira da praia em Atlântida, e a gurizada nem aí.
Falando nas Violas Rhinobatos percellens: Captura permitida Rhinobatos horkelii: Ameaçada de extinção – Proibida a captura. Teríamos como identificarmos com olhar de leigo?
Quem sabe mais detalhes de suas diferenças!
Abraços para os amigos.

C.Mazzillo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
C.Mazzillo disse...

Prezado Nei
A família das violas apresenta no litoral brasileiro dois gêneros: Rhinobatos e Zapteryx. No gênero Rhinobatos, incluem-se as espécies R.horkelii e R. percellens. Na obra "Ações para a conservação de tubarões e raias no sul do Brasil
(Vooren,C.M.; Lessa,R.P.;Klippel, 2005)os autores, citando Bigelow e Schoroeder descrevem o seguinte:"(...) R. horkelii é uniformemente verde-oliva acinzentada ou marrom-chocolate, sem marcas claras ou escura" e R.percellens é marrom com "com os flancos geralmente com pintas ou manchas mais escuras, vagamente delineados em número variado, frequentemente formando bandas transversais sobre a cauda(...) a maioria dos espécimes possui cerca de 40 a 45 pintas esbranquiçadas em ambos os lados da linha mediana dorsal, de tamanho semelhante à pupila do olho, dispostas irregularmente, porém simetricamente dos dois lados do corpo". Veja que não é muito simples. Outra característica é o tamanho relativo das fossas nasais, critério incompatível com o conhecimento de um leigo. Os mesmos autores apresentam como distribuição geográfica para R. percelles o limite meridional até a latitude de 25º S que corresponde ao litoral paranaense. Os autores também apresentam uma informação que é estatisticamente reveladora. Em 1982, foram examinados 9.754 indivíduos de Rhinobatos, capturados no litoral sul (Lessa,1982). Todos eram R. horkelli. Espero ter ajudado.
Um abraço.
C. Mazzillo

Anônimo disse...

concordo com a preservaçao, mas acho a proibiçao deve ser para a pesca industrial que pesca milhoes de toneladas, e nao para pesca esportiva que tem um impacto minuscolo

Ale disse...

Se a especie esta ameacada nao deve ser permitida pesca esportiva dela .Essa ideia e absurda,o animal esta na lista vermelha dos ameacados de extincao.Sei de locais em Ubatuba que existe muitas violas bem proximo a praia agora no inverno e os pescadores esportivos ficam ansiosos por pescar mas a desinformacao e tao grande quanto as multas.Sera que alguem tem informacao de qual especie e mais comum aqui em ubatuba?

Cesar Mazzillo disse...

Ale
Essa identificação é muito dificil para uma leigo. Podes encontrar informações complementares no site:
www.fishbase.org e nos links abaixo
http://www.aquamaps.org/receive.php (Rhinobatos percellens)

http://www.aquamaps.org/receive.php (Rhinbatos horkelii)