quarta-feira, novembro 22, 2006

Empates, chicotes ou rabichos

Lembro-me, com saudades, dos tempos das pescarias nas areias da Praia do Araçá, local em que reuniam-se a maioria dos veranistas pescadores de Capão da Canoa, nos já longíncuos anos 70. Foi lá, que ainda jovem e "aprendiz de pescador", conheci o "Seu Gallo". Cabelhos grisalhos, muito calmo, estava sempre disposto a auxiliar os menos experientes. O horário de pesca estendia-se até às 11h30min/12h e quase sempre, era ele o que mais pescava papa-terras. Não é necessário dizer que todos os pescadores o conheciam e que, sempre que possível, procuravam ficar ao seu lado para pescar. O "Seu Gallo" conhecia o mar, como poucos. Certo dia, vendo-me meio atrapalhado, pois meus empates, literalmente, enrolavam-se no chicote, veio com seu jeito tranqüilo e disse-me: "precisa duma ajudinha" ? Respondi-lhe que sim e relatei indignado que meus anzois empatados enrolavam sempre no chicote. Calmamente, "Seu Gallo" disse-me: "meu rapaz nunca empate anzois com linha de bitola inferior a do seu chicote. Como o empate é mais fino e mais leve, o movimento das ondas se encarrega de enrolá-lo. Procure usar sempre linhas da mesma bitola ou maior que esses problemas diminuem e quando o mar está calmo, praticamente não ocorrem" Agradeci a orientação e quando já se deslocava para o seu "calão", virou-se e disse-me: "não põe muito ferro na linha, guri! Tira a sensibilidade da pesca". Referia-se às presilhas e distorcedores. O máximo que admitia era um distorcedor, ligando o chicote à linha ou líder. Foram muitos os ensinamentos! Chicote curto ou longo, empate curto ou longo, mas sempre enfatizava: "olha a boca do peixe! Se é voltada para baixo sinal que come na areia, se é reta come no meio d'agua." Quase sempre complementava:" o nome papa-terra já diz tudo, os anzois tem que ficar junto a areia...". Foram muitos os ensinamentos do "Seu Gallo", já falecido. Outro dia conto como enaltecia os benefícios da banana, seu lanche predileto. O tempo passou e ficaram os ensinamentos e a lembrança de um ser humano magnífico.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu também gostaria de ter conhecido o senhor Galo, como não o conheci por favor gostaria de saber a respeito desta criatura por favor conte mais.

seuilha disse...

Marquinhos :

Seu Galo(o do Mazzillo) tinha , conforme o êle, uma técnica especial e uma paciência bárbara .
Acho que podes ser um discípulo do seu Galo já que os teus rabichos são ou eram impecáveis até o incêndio da fábrica.

C.Mazzillo disse...

Marco
Conheci o seu Gallo nas pescarias de praia, sua grande paixão. As conversas atravessaram anos, uma vez que encontravamos, apenas nos meses de verão. Era um grande pescador conhecedor das condições do mar, como poucos. Um desses papos foi sobre os "buracos", termo popular para os canais das praias de energia, como as do nosso litoral. O papo surgiu em razão do peso da chumbada que ele utilizava, quase sempre de 50g e da pergunta que lhe fiz de como a sua linha ficava parada, com esses chumbos tão leves. A resposta foi longa, começando com a bitola da linha. Dizia ele, que linhas mais grossas possuem dois tipos de arrasto. O que ocorre dentro da água e o provocado pelo vento. Generalizando, dizia que linhas finas têm pouco arrasto e linhas grossas, por serem de maior bitola, um maior, tanto na água, como o provocado pelo vento, as famosas "barrigas".Quase sempre usava linhas, no máximo 0,25, para essas pescarias. Sem líderes de maior calibre, o chumbo de 50g, arremessado, no lugar correto,isto é , dentro do "buraco", mantinha a linha parada. A pergunta que fiz, na seqüência da conversa, foi como localizar os buracos corretamente.
A resposta foi óbvia. Observando o mar! Dizia ele,veja o local em que as ondas não "quebram". O local em que "ondulam". Parece redundante, mas não é. A depressão do fundo, na areia, faz com que as ondas, passem sem "arrebentar" e complementava, "lá é que está o peixe e lá a tua linha não vai correr". E o papo rolava. Caniços de ação rápida e ação mais lenta. Qual o melhor? Como iscar as tatuíras moles e pelas 10h /11h da manhã lá vinha ele, comendo as suas bananas.Enfim, o seu Gallo era uma pessoa que gostava de compartilhar o que sabia. Por isso era admirado e estimado por todos que frequentavam aquela área de pesca.
Um abraço